Você está vendo o preço do arroz aumentar a cada semana e acha que a culpa é da inflação?
Ela não tem nada a ver com a remarcação de preços, porque há outros motivos que estão levando você a gastar mais para comer, mesmo sem sair de casa.
Descubra o que está acontecendo e o que pode fazer para a situação não piorar.
Conjunto de fatores está deixando a refeição mais cara
Você levou um susto quando viu o preço do arroz crescendo nas últimas semanas e logo pensou na inflação. Porém, agora a culpa não é do dragão que queimava o poder de compra do brasileiro até meados de 1994.
Segundo o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), a inflação em agosto de 2020 foi de 0,24% e fechou os últimos 12 meses em 2,44%. A meta do governo é encerrar o ano com alta de no máximo 4%.
Sendo assim, hoje em dia você está gastando cada vez mais quando vai ao mercado porque o problema é outro. Na verdade, existem alguns motivos para a comida ter ficado tão cara.
O primeiro diz respeito à pandemia e também ao auxílio emergencial. É fácil de entender e vou explicar os dois de forma separada.
A pandemia manteve as pessoas em quarentena e, assim, reduziu o número de alimentação fora do lar.
Com as pessoas comendo em casa, o consumo aumentou, elevou a demanda e fez com que o preço dos produtos subisse naturalmente.
Em relação ao auxílio emergencial, as famílias com renda mais baixa usam tal valor quase totalmente para comprar itens da cesta básica.
Isso elevou ainda mais a pressão sobre os preços e o exemplo que mais chamou a atenção foi o do arroz.
O maior parceiro do feijão teve seu valor de venda jogado nas alturas. Quem anda pelos corredores dos mercados vê as gôndolas registrando no mínimo o dobro de aumento, em comparação à média de R$ 15 no saco de 15 quilos vendidos há poucas semanas.
Porém, nesse caso existe um agravante para sua valorização.
Preço do arroz pode disparar se a população se prevenir
Quando surgem as crises, é necessário entender as causas dos problemas, manter o controle e tomar decisões para a situação não piorar.
O preço do arroz disparou nas últimas semanas e isso ocorreu por causa de certa combinação de fatores. Um deles foi a diminuição da produção nos últimos anos.
Segundo o Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA), a área plantada para a safra 2019/2020 foi de 936 mil hectares. Ela é 13% inferior ao período anterior.
Além disso, 3 mil hectares não foram colhidos devido a problemas climáticos. O Rio Grande do Sul é responsável por grande parte da produção de arroz no Brasil.
Os produtores diminuíram a área plantada por dois motivos: o arroz estava com o preço muito baixo e a redução da demanda não incentivava novos investimentos.
O consumo de arroz tem caído ultimamente. Isso aconteceu porque as famílias que aumentaram a renda mensal passaram a comer menos arroz, pois incluíram outros alimentos nas refeições.
A pandemia chegou quando havia baixa procura e os agricultores já tinham se adaptado a tal realidade. De repente, tudo mudou. As pessoas passaram a comer em casa e o consumo desse alimento cresceu no país inteiro.
Se as famílias começarem a estocar arroz em casa, o preço do produto vai subir ainda mais. Isso não tem nada a ver com inflação. O reajuste de preço é feito porque quando um item é muito desejado, mas tem pouca quantidade no mercado, ele fica valorizado e, assim, mais caro.
Ninguém gosta de pagar mais por aquilo que compra, muito menos de ficar sem o produto desejado. Principalmente algo de primeira necessidade.
Temporariamente, é melhor se adaptar do que deixar faltar.
Valor do dólar influencia direto no preço dos alimentos
Existem outros ingredientes que deixam a compra salgada ao passar pelo caixa do mercado. Veja bem.
O dólar tem temperado demais a formação dos preços e sua “pitada” tende a continuar estragando o sabor da economia.
Tenha calma. Seu entendimento não vai desandar porque você vai ver como tudo faz sentido.
O preço do dólar se mantém alto (R$ 5,29) e isso significa que o real está desvalorizado.
Quando nossa moeda vale pouco em comparação ao dólar, os produtos nacionais ficam bem baratos e são vendidos em maior quantidade ao exterior.
Fica uma barbada comprar do Brasil; pois certamente o produto daqui vira uma pechincha.
Por outro lado, nessas condições, os produtores brasileiros preferem exportar porque ganham mais vendendo em dólar. É uma questão de oportunidade de mercado. Simples assim, sem segredos.
Um dos principais compradores de artigos brasileiros é a China. Ela também consumiu mais alimentos para suprir as necessidades de bilhões de pessoas em quarentena e agora está repondo o próprio estoque.
Em relação à alimentação, a soja é o item que esse país mais compra do Brasil. Com menos grãos por aqui, o óleo de cozinha ficou caro. Ela ainda adquire bastante carne: bovina, suína e de aves.
Outros países, da mesma forma, compram alimentos do Brasil. Conforme aumenta a quantidade de produtos que vão embora, maiores são os preços desses itens no supermercado.
Viu como o dólar alto azeda seu orçamento? Mesmo que você não entenda nada de comércio exterior, agora pôde ver o que ele faz no dia a dia das famílias.
As alternativas para começar a controlar o preço do arroz
O governo está buscando soluções para resolver o problema, principalmente em relação ao preço do arroz.
Uma das ações foi zerar o imposto de importação desse produto e a decisão é válida até 31 de dezembro de 2020.
O volume de compra fica limitado à cota de 400 mil toneladas e, segundo o governo, é suficiente para evitar que o preço aumente ainda mais e falte arroz no mercado.
Na opinião de especialistas do setor, o estoque público de arroz deveria estar mais elevado para evitar tal problema.
Essa é uma das funções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Trata-se de uma empresa pública cujo objetivo é armazenar alimento para intervir no mercado e garantir tanto o controle dos preços, quanto à renda do produtor. Veja alguns produtos que ela mantém:
- Arroz
- Feijão
- Café
- Leite
- Açúcar
- Milho
- Trigo
- Soja
O papel da Conab é semelhante ao do Banco Central, que possui reservas em dólar para intervir na economia quando o preço da moeda americana está muito alto, mas só em situações específicas.
De acordo com a série histórica de estoques públicos, mantida pela Conab, o armazenamento de arroz em agosto de 2020 estava em 20.834 toneladas.
Ele vem sendo reduzido no decorrer dos anos. Em agosto de 2000, o estoque era de 950.962 toneladas e no mesmo mês de 2010, de 67.446 toneladas.
Por outro lado, todo estoque tem um custo para ser mantido e a pergunta a ser respondida é a seguinte: qual é o volume ideal que cada produto deve ter armazenado para garantir a segurança alimentar da população?
De qualquer forma, o preço do arroz vai continuar alguns meses em alta, até a produção aumentar e atender a demanda. Resta ver quais medidas além dessas serão tomadas para que ele volte ao normal.