Crise econômica já ultrapassou seu pior momento

0
580
Mulher olha para rolos de dinheiro e segura um ponto de interrogação porque não sabe a saída para a crise econômica.
Empresários querem saber como o país vai se recuperar da crise econômica, mas alguns indicadores trazem esperança.

Informe Publicitário

A crise econômica provocada pela Covid-19 está transformando não apenas o país, mas também os negócios que estão conseguindo sobreviver.

Nunca houve tanta incerteza quanto agora. Mesmo assim, algumas medidas tomadas pelo governo mostram que é possível enxergar uma luz no fim do túnel.

Essa é a opinião de Luiz Felipe Freitas, economista da Occam Brasil. Ele vê os indicadores econômicos apontando o início da recuperação já em maio e espera que ela se acentue nos dois últimos trimestres do ano. “O pior momento já ficou para trás”, declara Freitas.

Veja, a partir de agora, o que ele pensa sobre os rumos da economia brasileira no segundo semestre e, também, suas considerações a respeito do que os pequenos empresários podem fazer para superar uma das fases mais difíceis da história.

 

Contexto Atual – De forma geral, qual panorama está se formando para o segundo semestre do ano?
Luiz Felipe Freitas – Depois da forte queda da atividade econômica em março e abril, por conta das duras medidas de isolamento social em resposta à pandemia, diferentes indicadores econômicos já apontam que a recuperação iniciou em maio. Números do comércio, da indústria e em relação à confiança, deixam claro que o pior momento já ficou para trás. Aqui cabe comentar que o auxílio emergencial dado pelo governo foi essencial para esse movimento, pois ajudou na sustentação da renda de grande parte da população brasileira. Supondo que o processo de flexibilização gradual permaneça nos próximos meses, é possível afirmar que continuaremos a ver uma recuperação no terceiro e quarto trimestre. O PIB deste ano deve apresentar queda aproximada de 6%. Em 2021, já poderíamos ver o País crescendo em torno de 3%.

CA – Quais ferramentas econômicas o governo tem à disposição para aquecer a economia após a quarentena? Como elas podem ser combinadas?
LFF – Antes de entrar na agenda do segundo semestre, acho interessante comentar as diversas medidas de ajuda no combate a Covid-19 feitas pelo governo. Por exemplo, o auxílio emergencial citado acima, a ampliação do Bolsa Família, o Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda e a linha de crédito emergencial para financiar a folha de pagamento de pequenas empresas. Mesmo sabendo que a maioria dessas medidas é temporária, elas foram essenciais para construir as condições necessárias para o início da recuperação. Dito isso, à medida que seguirmos vendo a normalização das medidas de isolamento social, as ações do governo que ainda estão vigentes ou foram prorrogadas, e também os juros no menor nível da história, creio que a retomada gradual da economia tem tudo para continuar nos próximos meses. Sobre uma possível agenda, existe a possibilidade de aprovação da reforma tributária e a concretização da pauta de privatizações. Esses são fatores que podem ajudar ainda mais na recuperação dos investimentos no país.

CA – A taxa Selic foi fixada em 2,25% ao ano em junho e a inflação (IPCA) acumulada nos últimos 12 meses ficou em 2,13%. As perspectivas são de juros reais negativos em 2020. O que isso significa e quais as consequências para o país?
LFF – Juro real é o quanto a taxa de juros fixada pelo governo varia acima da inflação. Se, entretanto, ela ficar maior que a Selic, a diferença entre as duas passa a ser negativa. Com a taxa Selic em 2,25% (com possibilidade de ir abaixo disso), e a inflação acumulada em 12 meses fechando próxima de 2,5% nos próximos meses, antes de fechar o ano abaixo de 2%, o Brasil vai sim, passar a ter juros reais negativos por um tempo (algo que era considerado no mínimo improvável na opinião da maioria dos economistas). O primeiro ponto interessante a comentar sobre o ambiente de juros muito baixos é em relação aos investimentos. No atual ambiente, os rendimentos preferidos dos brasileiros, como a poupança e os títulos de renda fixa, estão deixando de ser atraentes. Tal mudança resulta na procura por produtos com maior risco, como por exemplo, ações, imóveis e até empreendimentos. Nesse novo panorama, o crédito e os empréstimos também devem ficar mais baratos e isso ajuda a estimular a economia real. Fora isso, como o momento é de grande ociosidade na economia, sem riscos de uma espiral inflacionária, a expectativa é a de que os juros permanecerão baixos por um bom tempo, ajudando o mercado imobiliário, e estimulando os investimentos de longo prazo como, por exemplo, em infraestrutura. Cabe ainda comentar o efeito positivo sobre a dívida pública, diminuindo os gastos com juros, em um momento que a situação fiscal está se deteriorando por conta da pandemia.

CA – A cotação do dólar está em R$ 5,34. O que deve acontecer com a moeda americana? Qual será a repercussão disso?
LFF – O cenário externo é crucial para o dólar. Então, a perspectiva de continuidade da retomada da atividade global, somada à queda da diferença dos juros existentes nos Estados Unidos e em outros países desenvolvidos, poderia levar ao enfraquecimento do dólar em nível mundial. Sendo assim, é possível que o real se valorize nos próximos meses. De qualquer forma, é preciso ter em mente que devido à mudança do regime de juros no Brasil (vindo de patamares muito elevados e indo para baixo), é difícil imaginar uma valorização muito grande, próxima dos níveis vistos nos últimos anos.

CA – O que o microempresário e o pequeno comerciante podem fazer para se proteger nessa situação que se forma para o segundo semestre?
LFF – Para se proteger e tentar manter as finanças em dia, a primeira sugestão que eu daria consiste em seguir renegociando os custos ao longo do segundo semestre. Por exemplo, o preço do aluguel. As incertezas irão continuar e muitos negócios talvez não voltem a operar com 100% da capacidade. Sendo assim, reduzir os custos seguirá sendo uma boa alternativa daqui em diante. A outra dica seria aproveitar as linhas de crédito, principalmente a oferecida pelo governo para pequenos negócios, por meio do Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte). As condições desta linha estão bem favoráveis. Parece que finalmente elas estão chegando ao microempresário e por isso faz sentido aproveitar a ajuda.

CA – Alguns setores da economia devem continuar paralisados, como por exemplo, os de eventos em geral e de alimentação fora de casa. Quais segmentos tendem a ser mais procurados após a quarentena e por quê?
LFF – Antes de comentar sobre os segmentos que tendem a sair fortalecidos dessa pandemia, acho interessante dizer quais já estão sendo beneficiados nesse momento de isolamento social. Eu os separaria em dois grupos: o primeiro corresponde aos fabricantes de produtos essenciais na atual situação, como por exemplo, vacinas, desinfetantes e máscaras; incluem-se aí, as empresas que vendem tais itens, ou seja, as farmácias e os supermercados. O segundo grupo diz respeito a tudo ligado à tecnologia, entre eles, os serviços de delivery, os remotos (voltados à educação, à comunicação e ao entretenimento), além do e-commerce. Baseado nisso, creio que a pandemia servirá como acelerador de tendências pré-existentes. A tecnologia já era um tema que vinha ganhando força e todos os segmentos ligados a ela deverão sair da crise fortalecidos.

CA – Como o microempresário em dificuldades financeiras pode negociar suas dívidas? Quais são as orientações para ele atravessar esse período tão difícil?
LFF – O primeiro passo é tentar renegociar os contratos já existentes com os bancos. Parece que já existe bom senso desse setor para rolar a dívida dos empresários que estão fazendo o negócio sobreviver durante crise. As linhas de crédito, disponibilizadas por bancos públicos, privados, fintechs, cooperativas financeiras e pelo próprio governo, facilitam tal renegociação. Outro ponto que faz sentido, e deve aliviar o bolso do empresário, é aproveitar a oportunidade dada pelo governo para adiar o pagamento dos tributos federais.

CA – O que o microempresário deve ter em mente daqui em diante? O que é prioridade e o que pode ser administrado para resolver depois?
LFF – Devido ao tamanho das incertezas ainda vigentes, o pensamento deve continuar com o foco na sobrevivência, no aumento da eficiência do negócio e nas mudanças necessárias. Concentrar esforços nas lojas mais rentáveis, deixando de lado as menos favoráveis, parece fazer sentido. Os assuntos que não são urgentes, nem essenciais, também devem ficar em segundo plano.

CA – Como as novas tecnologias de pagamento podem ajudar o comerciante a superar as dificuldades?
LFF – O futuro está no mundo digital, no e-commerce e a pandemia serviu para acelerar esse movimento. Para entrar nesse mercado, o comerciante precisa aceitar vários meios de pagamento digital, tendo em vista facilitar ao máximo a experiência do cliente na hora da compra. Além de oferecer comodidade ao diversificar as formas de pagamento, agindo assim o comerciante eleva a possibilidade de vender mais. O cliente pode desistir de ir a certa loja se ela não tiver o meio de pagamento que lhe agrade. Outro ponto positivo diz respeito à redução de fraudes, pois as instituições financeiras garantem que a empresa receba o valor das vendas realizadas, como no caso do uso do cartão, e assim reduz o risco do negócio. Mais uma vantagem da tecnologia está ligada à organização da loja. Todas as transações realizadas por meio de cartão de crédito ou débito ficam armazenadas virtualmente. Isso faz com que o comerciante consiga organizar melhor as finanças, controlar as vendas do dia, da semana, do mês e do ano, além de também traçar um perfil de cada cliente.

CA – O que pode ser esperado de positivo até o fim do ano?
LFF – Após todos os estímulos do governo, acredito que poderemos ver o Brasil se recuperando de forma mais pujante, caso consiga se organizar no aspecto sanitário. As condições estão na mesa, mas é preciso restabelecer a confiança.