O debate político está ao alcance de qualquer pessoa

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Desenho de um político, no púlpito, fazendo um discurso. Ele explica como vai ser a sua política no dia a dia.
Decisões políticas devem sempre respeitar a constituição, não importa o tipo de governo em exercício na ocasião.

Quando alguém afirma que para o Brasil crescer é mais importante seguir uma política de Estado em vez de adotar uma política de governo, você se sente perdido?

Quer entender esses conceitos, suas diferenças, e não sabe por onde começar?

Gostaria de ficar por dentro do assunto, mas ao ver especialistas debatendo sobre o desenvolvimento do País, não entende nada do que eles dizem?

Fique tranquilo. A partir de agora você vai captar a ideia que está por trás das principais discussões a respeito desse tema cada vez mais atual.

Com exemplos do dia a dia, fica bem mais fácil pegar a essência de qualquer conversa com base nessa questão.

Há muita discussão sobre o que é e quais são os limites de cada tipo de política, mas o objetivo aqui consiste em simplificar a compreensão das duas definições.

Sua vida e o ambiente da política têm pontos em comum

Por definição, Estado é o conjunto de instituições políticas e administrativas criadas para organizar a vida do povo dentro de certo território. Para ficar mais fácil, o entenda apenas como sendo o país onde a gente mora.

Já o governo, afinal, ele é uma das várias instituições que formam o Estado. Existe para administrá-lo, é passageiro e se refere a quem foi eleito e seu partido.

Jair Bolsonaro está no final de seu primeiro ano de mandato como presidente da República. Antes dele, claro, houve o governo Michel Temer, Dilma Rousseff, Lula, Fernando Henrique. Cada um deles agiu de acordo com o que achava melhor ao País.

Para o panorama político ficar mais perto da realidade cotidiana, então, te convido a um exercício interessante. Daqui em diante, então, comece a pensar de forma bem livre tendo em vista comparar esse universo com a situação em seu próprio lar.

Deixe de lado, pelo menos por enquanto, a existência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Nesse momento, certamente, não é necessário detalhar toda a dinâmica política para aprender o que deseja.

Em seu lar, é você quem governa. Valem suas regras, crenças e jeitos de pensar. As normas existentes na casa de amigos e de parentes, nem sempre são as mesmas. Às vezes, nem a diretriz presente na residência dos próprios irmãos é parecida.

Afinal, cada um está no seu quadrado. Os chefes de família definem internamente o que será feito (ou não será) e como poderá ser realizado.

As decisões na sua residência são tomadas com o objetivo de manter a ordem, deixar o orçamento sob controle e gerar meios de todos evoluírem com saúde e alegria. O seu futuro e o das crianças precisam estar garantidos.

Tudo se passa normalmente. Certa madrugada, você está voltando de um passeio com sua esposa, sofre um acidente e ambos morrem, deixando órfãos os filhos ainda pequenos. Devido às circunstâncias, outro casal se muda para sua casa.

Será que esse novo governante vai manter em vigor, de fato, todas as suas regras com o objetivo de deixar a família segura? Ou, além de agir diferente, vai se aproveitar da situação e tirar o que era direito dos herdeiros?

Vamos supor que ele continue administrando a casa no mesmo estilo anterior. Isso significa que a nova autoridade está respeitando e levando em consideração os propósitos, os valores e os objetivos do antecessor, ou seja, você.

Assim, tudo continuou nos trilhos porque seu jeito de ser foi preservado na nova gestão do lar. O legado deixado ficou presente definindo o que é melhor hoje e amanhã para quem estava sob sua responsabilidade.

O modo de governar permaneceu igual – garantindo a construção de bases sólidas para importantes conquistas tanto de curto, quanto de longo prazo –, mesmo após bastante tempo.

Onde quer que você esteja, tem orgulho de como tudo vai se ajeitando conforme esperado e, assim, se sente agradecido ao novo líder por ele ter conservado ou até ampliado o que você começou com tanto zelo.

Como há continuidade das propostas para assegurar o bem-estar e o progresso, mesmo com a mudança de comando, pode-se dizer que na sua casa é mantida uma política de Estado.

Mudanças radicais geram transformações profundas

Desenho de grupo de manifestantes protestando contra as decisões do governo.
População, quando está insatisfeita, pode ir para a rua se manifestar contra decisões do governo que prejudicam o país.

Agora, vamos ver o outro possível caminho do governante recém-chegado. Ele surge mudando tudo o que estava valendo antes e avisa: nova direção, novas regras; esse é meu lema.

Decisões são tomadas tendo em vista fazer algo positivo só enquanto permanecer como responsável pela casa. Ele sabe que as crianças vão crescer, alcançar a maioridade e uma delas se tornará o novo chefe daquele lar.

Como o futuro da residência não lhe interessa, portanto, mantém o foco apenas no curto prazo. Algumas ações até são importantes na atualidade, mas visam apenas melhorar a própria imagem. Sua vida é repleta de luxo, festa e passeio.

E aí? Como se sentiria vendo outra pessoa não apenas mudando suas regras, mas também acabando com o futuro da sua casa?

Quando, a cada gestão, alguém faz tudo diferente do líder anterior, a ponto de prejudicar projetos em andamento, que têm o objetivo de garantir o progresso contínuo em várias áreas, o que existe é uma política de governo.

Ela é reconhecida quando quem está no poder toma decisões mais alinhadas com suas próprias metas pessoais para o futuro, como no exemplo dado aqui, sem se importar com as consequências para a casa.

De nada adianta desprezar projetos em andamento para iniciar outros novos nos quais se acredita. Tal atitude resulta num eterno recomeço, sem nunca colher os frutos de ações anteriores que precisam de tempo para se obter resultado.

Ainda há uma informação importante sobre a diferença entre essas duas políticas.

Mesmo os governos sendo passageiros, o Estado é permanente. Isso significa, é claro, que nenhum governo é totalmente livre, pois é obrigado a seguir as normas do Estado. E elas estão na Constituição. Ela representa – em qualquer época – o poder máximo a ser seguido.

Sendo assim, não interessa qual caminho seja seguido, o governante deve prover sempre as áreas indispensáveis ao funcionamento do país, porque tal determinação está na Constituição.

Numa casa, não importa quem more lá, ninguém pode deixar de pagar as contas de luz e água, porque seus moradores terão graves problemas por causa da falta dos serviços básicos. É simples assim.

Vamos voltar, enfim, ao ambiente da política.

Entre as várias decisões que devem ser tomadas para o crescimento do país, algumas delas precisam levar em conta seus efeitos a partir de 10, 15, 20 anos. O futuro está sempre aberto e em jogo.

Saúde, educação, infraestrutura, meio ambiente, segurança nacional são alguns exemplos de áreas estratégicas de elevada importância.

Qualquer governo vigente tem de cuidar delas com muita responsabilidade. Esses setores, geralmente, se referem a uma política de Estado.

Quando há decisões com o objetivo de resolver questões de curto prazo, trata-se de uma política de governo. Elas também são bastante importantes porque garantem que tudo ocorra da melhor forma possível no presente.

A redução de impostos para determinados segmentos ou mesmo a queda da taxa de juros com o intuito de aquecer a economia e gerar emprego são soluções bem úteis. Mudanças dessa natureza mais imediata fazem parte do ambiente político.

A dúvida sobre o bom uso da política de governo surge quando certas resoluções são tomadas no intuito de atender a “vontade nacional” em ocasiões especiais.

Elas são muito comuns em anos de eleição porque a melhora sentida naquele momento desperta a esperança em dias mais promissores.

Tal sensação dá margem à reeleição ou à vitória do candidato apoiado pelo presidente.

Outro claro sinal de comando governista é sua estreita ligação com ideais e filosofias partidárias de quem está no poder.

Já as decisões de Estado, essas não devem ter bandeira, nem ideologia. São tomadas visando apenas o melhor para o país, sem pensar em qual partido estará daqui a algumas décadas à frente da nação.

Para encerrar, vou fazer uma comparação com o futebol.

Durante todo o ano, os jogadores disputam várias partidas no intuito de levar o time a ser o melhor do campeonato.

No início da Copa do Mundo, não existe mais rivalidade entre eles, simplesmente porque os atletas se unem pela vitória do Brasil.

A política de Estado é como a seleção canarinho. Quando a bola rola, certamente, todos seus esforços estão concentrados no melhor desempenho do grupo em campo, sem ter ninguém defendendo o próprio clube.

Já a política de governo, quando exagerada, se parece com os desportistas correndo em campo fazendo de tudo para provar que seu time é o melhor. Aliás, esse é o papel deles num período em que há poucos jogos oficiais da seleção.

A diferença é que na política, todas as partidas são pelo Brasil e não existe amistoso. Quem trabalha no Congresso Nacional deve representar em tempo integral os interesses do País.

Então, conseguiu entender o que significa política de Estado e política de governo? Está mais preparado para falar sobre o tema quando alguém discutir os caminhos do desenvolvimento do Brasil?

Esse é um debate antigo e com certeza você terá chance de se posicionar a respeito do assunto, além de compreender melhor o que dizem os especialistas.

Daqui em diante, basta se aprofundar para ficar com o discurso afiado.